Há 17 anos que trabalha na revista National Geographic (NG). Com quase 60, e com muito tempo de jornalismo na bagagem, David Braun assume-se como curioso, sedento de aprendizagem e apaixonado por ciência.
O Ciência 2.0, num dos intervalos da conferência internacional sobre comunicação das ciências marinhas que aconteceu no início deste mês no Porto, esteve à conversa com o jornalista. O especialista americano, leigo na área científica, fez a cobertura de vários temas diferentes, entre os quais ciência, até se especializar com a entrada na NG.
Já esteve ao lado de Bill Clinton e de Nelson Mandela, mas é das expedições com cientistas (já esteve em 69 lugares em 14 países) de que nos fala com um brilho nos olhos. As entrevistas aos cientistas não são só por telefone, mas também no próprio terreno, acompanhando a investigação.
“Visitei, em 2011, o vulcão na Islândia que foi responsável pelo encerramento temporário de vários aeroportos na Europa no ano anterior”, contou, como exemplo de uma das muitas fascinantes experiências de trabalho. “Nesse lugar estavam camadas e camadas de cinzas de vulcão, algumas com centenas de anos e podíamos distinguir o pó acumulado e trazido pelo vento das cinzas depositadas por uma nova explosão. Parecia um bolo com diferentes camadas”.
“Quando entrevisto um cientista não tenho vergonha de pedir para me explicarem como se eu fosse um jovem de 14 anos”
Por acompanhar de tão perto os cientistas, o jornalista, atualmente diretor de divulgação científica da NG, descreve desta forma a sua relação com os cientistas: “Gosto muito de estar com eles. Não têm receio de ir para o terreno e de se sujar. Têm um grande sentido de humor, gostam de acampar, como eu gosto e são pessoas muito inteligentes.”
Perguntamos a David Braun sobre as dificuldades em escrever sobre ciência. De volta ouvimos a seguinte resposta: “Quando entrevisto um cientista não tenho vergonha de dizer para me explicarem como se eu fosse um jovem de 14 anos, uma vez que nada sei sobre o assunto. E eles conseguem fazê-lo muito bem. Posso escrever uma história a pensar no público e depois envio de volta para os cientistas, mostrando o que entendi. Muitos jornalistas não o fazem, mas eu faço-o porque não sou cientista e preciso de verificar a informação”.
“Acho que é mais fácil os cientistas aprenderem jornalismo do que os jornalistas aprenderem ciência”
Na verdade, há cada vez menos jornalistas especializados nesta área nas redações, um facto que preocupa o especialista. Mas, por outro lado, sublinhou as possibilidades que são dadas aos cientistas para publicação das suas investigações e descobertas através da web 2.0.
“Acho que é mais fácil os cientistas aprenderem jornalismo do que os jornalistas aprenderem ciência. Hoje há imensos cientistas a escrever muito bem. Temos alguns exemplos nos blogues da National Geographic”. Porém, defende que deve haver uma aprendizagem do básico do jornalismo, como é o caso das questões-base para uma notícia e um trabalho de equipa entre os investigadores e quem trabalha em comunicação para passar a informação para o público.
A gestão de blogues e das redes sociais é uma das funções de David Braun. Entre muitas reuniões, acompanha as publicações e desenvolvimentos no Twitter e no Facebook e dá apoio na redação de novas histórias.
No próximo mês de novembro, o jornalista embarca numa viagem para um novo trabalho jornalístico. Irá acompanhar uma expedição de cientistas em Butane, Índia, a propósito do leopardo das neves, uma espécie ameaçada.